Já dizia Darwin:
"Não há
diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades
mentais...os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade
e sofrimento".
(Charles Darwin)
Fonte: www.veja.abril.com.br
"Não é mais possível dizer que não sabíamos", diz
Philip Low
Neurocientista explica por que pesquisadores se uniram para
assinar manifesto que admite a existência da consciência em todos os mamíferos,
aves e outras criaturas, como o polvo, e como essa descoberta pode impactar a
sociedade
Estruturas do cérebro responsáveis pela produção da
consciência são análogas em humanos e outros animais, dizem neurocientistas
(Thinkstock)
O neurocientista canadense Philip Low ganhou destaque no
noticiário científico depois de apresentar um projeto em parceria com o físico Stephen Hawking, de 70 anos. Low quer ajudar Hawking, que está completamente
paralisado há 40 anos por causa de uma doença degenerativa, a se comunicar com
a mente. Os resultados da pesquisa foram revelados no último sábado (7) em uma
conferência em Cambridge. Contudo, o principal objetivo do encontro era outro.
Nele, neurocientistas de todo o mundo assinaram um manifesto afirmando que
todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm consciência.
Stephen Hawking estava presente no jantar de assinatura do manifesto como
convidado de honra.
Low é pesquisador da Universidade Stanford e do MIT
(Massachusetts Institute of Technology), ambos nos Estados Unidos. Ele e mais
25 pesquisadores entendem que as estruturas cerebrais que produzem a
consciência em humanos também existem nos animais. "As áreas do cérebro
que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a
consciência", diz Low, que concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:
Estudos sobre o comportamento animal já afirmam que vários
animais possuem certo grau de consciência. O que a neurociência diz a respeito?
Descobrimos que as estruturas que nos distinguem de outros animais, como o
córtex cerebral, não são responsáveis pela manifestação da consciência.
Resumidamente, se o restante do cérebro é responsável pela consciência e essas
estruturas são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos
e pássaros, concluímos que esses animais também possuem consciência.
Quais animais têm consciência?
Sabemos que todos os
mamíferos, todos os pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem
as estruturas nervosas que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais
sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não
têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que
estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede neural,
a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer que não sabíamos.
É possível medir a similaridade entre a consciência de
mamíferos e pássaros e a dos seres humanos?
Isso foi deixado em aberto pelo
manifesto. Não temos uma métrica, dada a natureza da nossa abordagem. Sabemos
que há tipos diferentes de consciência. Podemos dizer, contudo, que a
habilidade de sentir dor e prazer em mamíferos e seres humanos é muito
semelhante.
Que tipo de comportamento animal dá suporte à ideia de que
eles têm consciência?
Quando um cachorro está com medo, sentindo dor, ou feliz
em ver seu dono, são ativadas em seu cérebro estruturas semelhantes às que são
ativadas em humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um comportamento
muito importante é o autorreconhecimento no espelho. Dentre os animais que
conseguem fazer isso, além dos seres humanos, estão os golfinhos, chimpanzés,
bonobos, cães e uma espécie de pássaro chamada pica-pica.
Quais benefícios poderiam surgir a partir do entendimento da
consciência em animais?
Há um pouco de ironia nisso. Gastamos muito dinheiro
tentando encontrar vida inteligente fora do planeta enquanto estamos cercados
de inteligência consciente aqui no planeta. Se considerarmos que um polvo — que
tem 500 milhões de neurônios (os humanos tem 100 bilhões) — consegue produzir
consciência, estamos muito mais próximos de produzir uma consciência sintética
do que pensávamos. É muito mais fácil produzir um modelo com 500 milhões de
neurônios do que 100 bilhões. Ou seja, fazer esses modelos sintéticos poderá
ser mais fácil agora.
Qual é a ambição do manifesto? Os neurocientistas se
tornaram militantes do movimento sobre o direito dos animais?
É uma questão
delicada. Nosso papel como cientistas não é dizer o que a sociedade deve fazer,
mas tornar público o que enxergamos. A sociedade agora terá uma discussão sobre
o que está acontecendo e poderá decidir formular novas leis, realizar mais
pesquisas para entender a consciência dos animais ou protegê-los de alguma
forma. Nosso papel é reportar os dados.
As conclusões do manifesto tiveram algum impacto sobre o seu
comportamento?
Acho que vou virar vegano. É impossível não se sensibilizar com
essa nova percepção sobre os animais, em especial sobre sua experiência do
sofrimento. Será difícil, adoro queijo.
O que pode mudar com o impacto dessa descoberta?
Os dados
são perturbadores, mas muito importantes. No longo prazo, penso que a sociedade
dependerá menos dos animais. Será melhor para todos. Deixe-me dar um exemplo. O
mundo gasta 20 bilhões de dólares por ano matando 100 milhões de vertebrados em
pesquisas médicas. A probabilidade de um remédio advindo desses estudos ser
testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem funcione) é de 6%. É uma
péssima contabilidade. Um primeiro passo é desenvolver abordagens não
invasivas. Não acho ser necessário tirar vidas para estudar a vida. Penso que
precisamos apelar para nossa própria engenhosidade e desenvolver melhores
tecnologias para respeitar a vida dos animais. Temos que colocar a tecnologia
em uma posição em que ela serve nossos ideais, em vez de competir com eles.
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